domingo, 25 de janeiro de 2009

Amo Tereza
(Tereza não sabe)


Todos os dias a claridade da manhã invade o quarto para violar minha intimidade. Incansáveis, os raios de sol vêm varrer os mesmos 10 m² para constatar que Tereza não dormiu comigo. Sempre fica no ar o aroma do seu cinismo, da sua frieza, da sua dissimulação: a manhã nunca se importa com o sofrimento dos homens.
Eu devia me afogar nesse copo de uísque. Velho, bêbado e morto: um fim romanesco para uma vida de humilhante solidão. Eu devia, no mínimo, enterrar meu rosto nos seios flácidos de alguma prostituta anônima dessa cidade desconhecida. Ao menos às sextas. Ah, as prostitutas!... Durante o resto da semana eu poderia poupar meu corpo de volúpias frívolas, ocupando a mente com... jardinagem? Não, não darei esse gostinho à natureza, não tornarei mais belas as manhãs que diariamente me humilham. Não me comportarei como o amante que oferece um buquê de rosas à mulher que o envergonhou com seu abandono...
Lá vem Tereza. Tereza não anda. Tereza flutua. Onde terá passado a noite? Com o mulato que descarrega as verduras na feira? Ou com aquele rapazola da rua dezessete? Uma agonia sem fim desenvolve-se nos meus intestinos. Sofro por uma puta. Mas Tereza não é puta. Tereza é louca. Seus cabelos desgrenhados, seu vestido barato, seu sorriso infantil, sua fome de sexo: não resta dúvidas. É louca.
(Mas a maior prova da loucura de Tereza está nos seios. Tereza tem seios petulantes. Uma mulher não pode ter aqueles seios e nenhum pudor. Só pode ser louca.)
Sofro por uma louca. Semana passada arrebentei minhas mãos no espelho do quarto por não ter coragem de arrebentar a cara daquele sem-vergonha que ultrajou Tereza no bar. Mas não foi covardia, ah, eu não podia, não podia! Já basta a humilhação da inspeção matinal dos raios de sol. Não suportaria a chacota de uma cidade inteira, de uma cidade-fantasma, eu, o velho forasteiro que se apaixonou pela puta, que socou a cara do velho que acariciou os seios da puta, que não dorme de noite porque seus intestinos não agüentam imaginar os gemidos da puta...
Tenho plena certeza de que Tereza sairá nua de casa a qualquer momento, cigarro de palha na boca, lábios cantarolando uma velha cantiga de ninar. Nesse dia, quem irá protegê-la da volúpia dos homens, da fome de seus sexos? Eu ainda estarei vivo para protegê-la? Sim, estarei. Eu estarei aqui, nessa casa amarela e descascada, esperando o auge da loucura de Tereza, o auge da loucura dos seios de Tereza. Será preciso que alguém a tome pela mão e a leve mansamente para um quarto silencioso, onde Tereza tomará um banho e adormecerá tranqüila como uma criança. Sim, será preciso que alguém a coloque para dormir, ela e seus seios, sempre atentos e ávidos pelo toque alheio... Nunca o meu, Ah, Tereza! Nunca o meu...
Como um par de seios pode desgraçar assim a vida de um homem? Tereza desgraçou minha vida.
Amo Tereza. Tereza não sabe.