quarta-feira, 31 de julho de 2013

Peraltice


Caiu dum pessegueiro
em cima do arame farpado.

Urrou de dor.

Rolou no chão
poeirento
pra ver
se passava.

Não passou.

O contrário,
ficou toda
rasgada e
suja de
esterco.

Bem que o padre falou.
Fiquei com dó.

Levei pra casa
lavei no sabão de coco
coloquei o remendo
e pus pra
quarar
pra ver
se fica
branquinha branquinha
essa tal
alma minha.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Analgesia


Escrevo porque dói.

Quando para de doer
tomo chá com rosquinhas
e durmo

pra no dia seguinte
começar a doer
de novo.

Do ofício


Escrever é como
mascar chicletes:
uma hora perde-se
o gosto.

É para quem tem
bom senso
e eu estou desvairada
de amor

pela década de noventa
pela tia do jardim-de-infância
pelas listas telefônicas
que não existem mais.

Quem olhar fininho
dentro de mim
vai ver um prado
arado por dois bois

e escondida
lá no fundo
trás duma árvore
eu
rindo
sem dentes
todos os meus
sete anos.