sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu não sou poeta

Eu sou enfermo.
 
Que a arte é apolítica?
Eu sei.
Que a arte não é finalística?
Eu também sei.
 
Mas, como eu disse,
eu não sou artista.
Sou só um pobre diabo
tentando sobreviver.
 
½ dúzia de versos diários.
Eis a profilaxia
para ser
cartesiano
coerente
catedrático.
Para entrar todos os dias no elevador.
“Você trouxe o seu guarda-chuva?”
 
Costurei os lábios de pano de minha
velha boneca Loucura.
Loucura era casada com Escárnio.
Juntos atormentaram toda minha infância
até irem morar no baú
do sítio do meu avô.
 
Agora sinto cheiro de querosene.
Como quando minha mãe
incendiou sem querer
os sacos de estopa
onde na venda se guardavam os
grãos de milho.
 
O problema
é que de onde eu vim
todos eram viscerais.
 
E aqui,
só esse vazio.
 
Só essa solidão.